Não há como falar em administração de empresas sem citar Peter Drucker. A ideia de capital humano, que reconhece a importância dos funcionários para uma organização, é apenas um dos seus legados.
Observador e visionário, Drucker ficou conhecido como o pai da administração moderna, ampliando a perspectiva da sociedade sobre o que é gestão e o papel essencial das pessoas para o sucesso de qualquer empresa.
Ao longo de sua vida, atuou como professor, jornalista, economista e filósofo, registrando suas reflexões e teorias em mais de 30 livros, que impressionam por se manterem atuais, mesmo décadas depois de serem lançados.
Quer saber mais sobre a trajetória e algumas obras dessa referência no campo da gestão? Então, não perca nenhuma linha deste artigo. A partir de agora, vamos falar sobre quem foi Peter Drucker, seu conceito sobre administração e como suas ideias podem melhorar o gerenciamento de companhias e carreiras nos dias de hoje.
Peter Drucker: guru da administração
Peter Ferdinand Drucker foi um consultor, escritor, acadêmico e notável economista, comumente chamado de guru da administração - apesar de não gostar desse título por relacionar a palavra guru ao charlatanismo.
Drucker foi um dos maiores pensadores do campo nos últimos tempos, colaborando com análises presentes e futuras a respeito da gestão de organizações durante os séculos 20 e 21. Inclusive, chegou a tratar de assuntos contemporâneos como a globalização e os benefícios da descentralização dentro das empresas que, ao promover a autonomia, ganham agilidade em seus processos.
O pai da gestão moderna viveu entre 1909 e 2005, quando partiu, deixando um universo de conteúdos ricos e tendo influenciado personalidades como Bill Gates, fundador da Microsoft. Pouco antes de falecer, continuava compartilhando seus conhecimentos, ministrando aulas de Ciências Sociais na Claremont Graduate California.
Drucker nasceu em Viena, capital da Áustria, onde viveram grandes personalidades da música, cultura e ciência, a exemplo de Mozart e Sigmund Freud. Ao longo de sua vida, o autor conheceu uma série de cidades e países - Estados Unidos, Alemanha e até o Brasil -, que colaboraram para sua visão ampla e diversa do mundo, além da aplicabilidade de suas teorias.
Seu legado deu novo sentido a termos como administração, liderança, marketing e a razão de existir das empresas.
Qual é a teoria de Peter Drucker?
Praticamente todas as teorias atuais sobre gestão empresarial têm alguma relação ou aproveitam as premissas deixadas por Drucker. Tanto que o escritor é um dos maiores nomes da Teoria Neoclássica da Administração, que descreve as abordagens iniciadas na década de 1950 e se estende até hoje.
Conforme cita o administrador André Boaratti no artigo "As Teorias da Administração em foco: de Taylor a Drucker", o pensamento desse autor pode ser resumido em quatro pontos principais:
- Foco na prática da administração
- Reafirmação das proposições clássicas
- Foco nos princípios gerais de gestão
- Foco nos objetivos e resultados
Já em suas primeiras obras, Drucker defendia uma ideia revolucionária para a época: a de que o cliente é a prioridade de uma organização, e não o produto. Repare que essa concepção está na base de tendências bastante atuais, como a experiência do usuário (UX) e do marketing ou vendas centrados no cliente.
Até meados do século XX, as empresas eram orientadas por uma cultura diferente, graças a fatores como o monopólio e a escassez de produtos concorrentes. Uma vez que dominassem um mercado, ainda que local, elas não precisam se preocupar muito com os desejos do consumidor, pois ele não tinha a opção de consumir um item ou marca diferente.
Portanto, o produto ou serviço é que se destacavam e guiavam os esforços dos gestores e trabalhadores. Havia, assim, um mercado de massa, que buscava conquistar e atender a uma grande parcela de clientes.
Durante sua carreira, Peter Drucker percebeu que essa dinâmica estava passando por mudanças profundas, incluindo a valorização da individualidade. A cultura de massa, que encaixava as pessoas em grupos estereotipados, começava a ser substituída por uma cultura de nichos, na qual os interesses de cada um é que ditavam sua forma de consumir.
Nesse contexto, o consultor vislumbrou a valorização das pessoas como um requisito fundamental para a evolução das organizações. Esse pensamento engloba tanto os clientes quanto os funcionários, considerados, por ele, como o maior recurso das empresas.
Ao contrário de teorias anteriores, que viam os empregados como meras extensões das máquinas ou executores de tarefas, Drucker afirma que o conhecimento deles é o capital mais valioso de qualquer companhia.
Portanto, cabe às lideranças realizar uma gestão humanizada, aproveitando os talentos e experiências de todos para aprimorar seu produto ou serviço.
O que é administração para Peter Drucker?
"Administração é fazer as coisas direito. Liderança é fazer as coisas certas".
"O trabalho do administrador pode ser definido como planejar, organizar, ajustar, medir e formar pessoas".
As frases acima, ditas por Drucker, dão uma boa ideia sobre como ele defina a administração - uma área necessária para o bom funcionamento de qualquer organização. Seguindo esse raciocínio, podemos dizer que nenhuma organização existe sem que alguém a administre, mesmo que esse indivíduo não tenha formação nesse campo.
Aliás, o escritor foi um dos pioneiros em classificar a Administração como uma disciplina que poderia - e deveria - ser ensinada em ambiente acadêmico. Em suas obras, explica que Administração não é uma ciência, e sim uma prática que precisa ser alimentada por outras disciplinas (Economia, Filosofia, Matemática, Histórica, etc) para formar saberes úteis no dia a dia.
Contudo, ele reconhecia que, para administrar, não é imprescindível ter conhecimento sobre esse setor, embora a formação qualifique e melhore o trabalho do gestor. A administração requer atenção e informações básicas referentes à legislação, aspectos jurídicos e a estrutura de uma empresa.
Partindo desses saberes, será possível traçar um plano com metas e mitigarão de riscos (planejar), gerir recursos de maneira eficiente (organizar), corrigir falhas pelo caminho (ajustar) e acompanhar de perto os resultados (medir).
Vale ainda, observar que Drucker considerava a administração intrinsecamente ligada a funções de liderança (formar pessoas), pois, em grande parte do tempo, administrar implica em gerenciar uma ou mais equipes. Por isso, um administrador completo executa sua função com base nos desejos e nas necessidades, não apenas do cliente, como também de seus funcionários.
Para tanto, o gestor necessita ter caráter, ou seja, ser agradável e simpático para se relacionar e extrair o melhor de cada empregado, resultando no aumento de sua satisfação e, por consequência, da produtividade. Desse modo, a empresa terá o combustível necessário para crescer de forma sustentável.
Por que Peter Drucker é considerado o pai da administração?
O autor dedicou a vida a estudar e melhorar o modo como as organizações são administradas, a partir de diferentes ações. Na prática, atuou como consultor em empresas como a General Motors (GM), ainda nos anos 1940, conhecendo de perto seu funcionamento.
No campo teórico, refletiu, aplicou e compartilhou seu aprendizado por meio de inúmeros artigos e mais de 30 livros, além de dar aulas e palestras em diversos países, inclusive no Brasil. Mas sua fama, desde cedo, como o "pai da administração moderna" parece ter se consolidado por meio de duas de suas primeiras obras: "Conceito da Corporação" (1946) e "Prática da Administração de Empresas" (1954).
O primeiro descreve a gestão realizada na GM, enquanto o segundo reúne tópicos presentes na vida de qualquer administrador. Juntos, eles deram base a princípios que orientam gestores de vários níveis, que trabalham em companhias de todos os portes e segmentos, como a importância de selecionar e conhecer os hábitos dos clientes em potencial.
Qual é a principal finalidade da empresa, segundo Drucker?
Para Drucker, a principal finalidade de uma empresa é ter clientes e suprir suas necessidades e desejos, deixando-os satisfeitos. As organizações adquirem, assim, um papel social, tendo como missão entregar valor à sociedade.
Essa concepção deixou para trás a ideia de que as companhias só existem para dar lucro, a despeito de seus impactos sobre a comunidade no entorno, o meio ambiente, os empregados e suas famílias. Para alcançar sucesso, as empresas precisam coexistir de forma harmônica com todos esses componentes, sem afetá-los de maneira negativa ao colocar o lucro acima de todos eles.
Daí é que nasce a necessidade de uma gestão humanizada, que não se foque em "sugar" o trabalhador e, sim, em torná-lo produtivo mantendo ou elevando sua qualidade de vida no trabalho.
Como o consultor Peter Drucker entende o marketing?
Mais que um departamento dentro da empresa, o professor compreendia o marketing como a única função da empresa, indo muito além das metas de venda ou anúncios. Segundo o pensador:
"O objetivo do marketing é conhecer e entender o consumidor tão bem que o produto ou serviço se molde a ele e se venda sozinho".
Afinal, o marketing é a representação do negócio, a forma como ele é sob o ponto de vista do cliente. Nesse sentido, todos os integrantes da organização participam das ações de marketing, pois contribuem para construir e manter um relacionamento com o consumidor.
Esse relacionamento é modificado a cada interação, acrescentando fatores positivos, neutros ou negativos à percepção que o cliente tem sobre a empresa. O marketing tem um papel crítico para qualquer organização, uma vez que conquistar um novo cliente exige muito mais recursos do que manter um antigo.
Portanto, gestores inteligentes devem trabalhar continuamente pela satisfação do cliente, já que, se estiver satisfeito, é provável que ele continue comprando um produto ou utilizando um serviço. Desse modo, as vendas, conversões e aquisições são entendidas como consequências de se conhecer e colocar o consumidor no centro das ações desenvolvidas pelo negócio.
Como o consultor Peter Drucker entende o planejamento estratégico?
Na obra do escrito, o planejamento estratégico aparece dentro do conceito de gestão por objetivos, que auxilia os negócios a se tornarem mais ágeis e eficientes. Nessa dinâmica, planejar é um processo útil para lidar com as incertezas do futuro, e o nível estratégico serve para os planos de longo prazo.
Isso porque cada decisão tomada pelo líder ou gestor inclui riscos, ainda que tenha o respaldo de dados e análises assertivas, pois envolve o futuro - que é, por definição, incerto. O planejamento estratégico permite vislumbrar os resultados das ações atuais e/ou quais ações devem ser tomadas hoje para alcançar determinado objetivo no futuro.
Então, planejar estrategicamente deve ser um exercício constante, adaptando o plano de acordo com novas variáveis ou atitudes para minimizar os impactos negativos. Ou, nas palavras de Drucker:
"O planejamento de longo prazo não diz respeito a decisões futuras, mas às implicações futuras das decisões presentes".
Obras do autor:
Dentre uma extensa lista de obras, fica difícil escolher quais são as mais representativas. No entanto, algumas delas ganharam maior popularidade, por isso, fazem parte da lista a seguir:
- (1946) - Conceito da Corporação
- (1954) - Prática da Administração de Empresas
- (1967) - O Gestor Eficaz
- (1989) - As Novas Realidades
- (1993) - Sociedade Pós-Capitalista
- (1999) - Desafios Gerenciais para o Século XXI
Frases de Peter Drucker
- "A melhor maneira de prever o futuro é criá-lo".
- "O mais importante na comunicação é ouvir o que não foi dito".
- "Quando você vê um negócio bem-sucedido é porque alguém, algum dia, tomou uma decisão corajosa".
- "O conhecimento era um bem privado, associado ao verbo saber. Agora, é um bem público ligado ao verbo fazer".
- "Cada decisão é arriscada: ela é um comprometimento de recursos presentes com um futuro incerto e desconhecido".
- "Mais arriscado que mudar é continuar fazendo a mesma coisa".
- "A única fonte de lucro é o cliente".
- "O problema em nossas vidas não é a ausência de saber o que fazer, mas a ausência de fazê-lo".
- "Não podemos prever o futuro, mas podemos criá-lo".
- "Administração é fazer as coisas direito. Liderança é fazer as coisas certas".
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